sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Deixei a barba crescer

Te conheci moleque, fraco, sem retórica, persuasão, talento e te mostrei que o mundo ia além do caminho da escola para casa, mais que isso, te encoragei a rodar o mundo, abri as portas desse imenso universo de oportunidades. 
Te fiz com meu suor, criei o meu modelo perfeito, moldei cada vazio do teu pensamento, e de volta tudo o que recebo é essa ambição que se vira contra mim. 
Feito uma obra de arte de valor inestimável, desenhei cada traço do seu temperamento, toda fala era planejada, eis que nascia a inspiração, o desejo, a curiosidade. Enquanto você se fazia cada dia mais moço, era eu quem estava te dando o combustível para seguir em busca, de qualquer estrada que não cruzasse meu caminho. Te dei matéria prima, sustento para o teu tutano, teus ideais, teus ídolos, até teu cheiro foi feito aqui, na casa que não conseguiu te prender por mais tempo, e que você simplesmente deixou, sem lembrar nem onde é que está guardada a xícara, que ficou no armário, te esperando, vazia. 
Aproveitei essa espera para mudar a disposição do quarto, mudei as plantas de lugar, e aquela velha poltrona onde gostava de dormir a tarde foi embora junto com os livros que esqueceu aqui. Deixei a barba crescer, conheci músicas novas, e você precisa ver as fotos que fiz do por do sol, na verdade, é através delas que mando o sinal que precisa, para lembrar do teu endereço no mundo, e que não importa o quanto caminhou sozinho, se foi aqui que aprendeu a andar. 


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